Texto: Marcelo Soares
O Coral Associação Sabesp comemorou os 80 anos do nascimento de Elis Regina com a última apresentação de “Cantando Elis” no teatro Alfredo Mesquita, em Santana. Elis, uma das vozes fundamentais da música popular brasileira, teria se tornado octogenária no dia 17, dez dias antes da apresentação.
A apresentação, que contou com cerca de 100 espectadores, encerrou dois anos e meio de trabalho dos coralistas. Desde 2022, sob a regência do maestro Carlos Cerqueira, o grupo escolheu o repertório, elaborou cenários, figurino, coreografia e textos. Além disso, no entorno do grupo foi recrutada a jovem atriz Sophia Del Rio, que encarnou Elis e contou em primeira pessoa episódios de sua biografia nos intervalos entre canções.
“Quando eu estava pensando sobre que repertório fazer após os Saltimbancos, um amigo mencionou que Elis faria 80 anos em breve”, diz Cerqueira. “O repertório que ela cantou sempre foi incrível, então separei algumas músicas para o grupo escolher. Não queríamos deixar de fora nenhuma das músicas que ela cantava, mas não tinha como.”
Elis Regina não era compositora, mas durante sua carreira tornou-se uma espécie de madrinha de toda uma nova safra de compositores que surgiram no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Com sua voz e emoção, a cantora fazia suas as palavras de talentos até então ocultos como Milton Nascimento, Renato Teixeira, João Bosco, Aldir Blanc e muitos outros cujas fitas recebia em casa e ouvia com atenção antes de decidir o que gravar.
O repertório do espetáculo procurou abranger essa riqueza lírica e organizá-la de forma que contasse ao público quem foi a pimentinha que adoçou os ouvidos do Brasil e do mundo.
Na interpretação de Sophia Del Rio, adaptando falas da própria Elis e cantando uma emocionante versão de “Fascinação”, a cantora estava representada no palco.
“Cheguei ao coral com 9 anos já querendo participar de tudo e fui adotada como uma mascote”, diz a atriz, que em paralelo com Elis também interpretou papéis em musicais. “Agora, depois de 10 anos, saio me sentindo uma estrela”, disse, entusiasmada após dar o primeiro autógrafo do início de sua carreira.
O repertório de Elis Regina foi tão vasto que mal cabia em uma hora e meia. Numa das primeiras apresentações, o coralista Edson Júnior criou uma forma engenhosa de aproveitar mais de tudo que Elis fez o Brasil sentir, declamando trechos de canções com temática social. A ideia se tornou o jogral “Vozes da Sociedade”, em que o coralista. dirigiu seis colegas que declamaram trechos escolhidos.
“Os trechos dialogam com a vida, história e cultura da sociedade brasileira atual, embora tenham sido compostos há mais de quarenta anos”, diz Edson Jr. “Vozes da Sociedade permitiu fortalecer o coletivo, evidenciar o talento das coralistas e viver a experiência de criar um show com a assinatura de todos nós.”
Membros do coral atuaram em pequenos trechos contracenando com Elis Regina. Ela aprendia a dançar com Lenny Dale, era cumprimentada por Adoniran Barbosa e respondia perguntas de fãs. “Os coralistas viraram atores e se viraram para estarem no palco”, orgulha-se Cerqueira --ele próprio interpretou um Tom Jobim nervoso na gravação de “Águas de Março”, para ao final dar razão a Elis sobre suas inovações musicais.
A coralista Elisabeth Bambace, com décadas de experiência em produção teatral, era a fã que levava Elis às gargalhadas, repetindo uma situação inesperada vivida por Elis numa entrevista ao vivo.
“Nós tivemos o cuidado de levantar trechos da vida real da Elis, com pesquisas e entrevistas dadas por ela”, diz a coralista. “Com isso conseguimos mostrar o que a Elis representou para a sociedade”.
O coralista Rogério Guimarães participa duas vezes: primeiro, dança bolero com Elis no papel de seu pai, Seu Romeu; depois, emociona o público recitando o texto escrito por Fernando Faro e originalmente declamado por Elis em sua última turnê, Trem Azul, de 1981, que alude à morte, até então apenas simbólica, e conclui: “agora, eu sou uma estrela”.
“Interpretar Seu Romeu e dançar o bolero como antigamente foi uma delícia, mas a parte mais desafiadora foi declamar o texto da Elis, tão forte e tão lindo”, diz Rogério. “Pus meus sentimentos no texto e me deixei levar, o que facilitou muito o processo, especialmente quando ele remete à ideia da morte”.
Alguns dos coralistas tiveram, na juventude, a oportunidade de ver a própria Elis Regina no palco. É o caso de Edna Campagnucci, que assistiu ao vivo a uma das apresentações do espetáculo “Falso Brilhante”, que ficou em cartaz de 1975 a 1977 em São Paulo.
“Elis tinha uma presença magnética no palco, uma preocupação imensa com os detalhes da cena e com cada sílaba que cantava”, diz Edna. “Acho que tentamos ser fiéis a essa visão artística que Elis tinha. E, do nosso jeito, conseguimos.”
O maestro Carlos Cerqueira acredita que a construção coletiva do espetáculo foi a sua maior riqueza. Cada um dos coralistas emprestou um pouco dos seus talentos. “Alguns coralistas leram as biografias e entrevistas disponíveis de Elis para prepararmos os textos; outros criaram elementos de cena, como as mandalas coloridas”, conta o maestro. “As barreiras foram sendo derrubadas a cada ensaio, a cada exercício de maquiagem, a cada desafinada e a cada palco vencido”.
Neste momento, o grupo já começa a ensaiar o repertório do próximo espetáculo, ainda sigiloso, mas que deve falar à biografia de cada um de nós.
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